O texto não é meu, mas como eu não uso mais FB e ele merecia muito o compartilhamento, pedi autorização à autora, a maravilhosa roteirista e escritora Renata Corrêa, para publicar aqui.
Simplesmente leiam! Eu não preciso dizer mais nada...
"Gwyneth Paltrow é da elite de Hollywood. Seus pais são trilhardários e o padrinho dela é o Spielberg. Sim, o cara que fez ET derramou a água batismal na cabeça dela quando ela era bebê. Quando ela foi assediada pelo Weinstein ela namorava o Brad Pitt.
Se isso aconteceu com ela imagina com produtoras, assistentes, figurinistas, atrizes menos famosas?
O caso tem todos os elementos que nós, mortais, longe de Hollywood estamos cansadas de saber.
Um homem de poder assedia.
TODO MUNDO sabe e comenta.
Aparece uma mulher com coragem e relata para dar um basta naquilo.
A mulher é ameaçada, silenciada e desacredita pelos homens ao redor.
O caso é abafado.
Até que surja mais um caso, mais uma evidência, mais um indício.
Outras vítimas aparecem. O abusador nega, diz que vai processar a imprensa e logo se fiz arrependido.
Agora disse que vai fazer uma “rehab de comportamento sexual” na Europa.
Rehab de comportamento sexual? Ele não buscava sexo. Ele exercia poder através da intimidação. Sexo é outra coisa. Assédio não é sexo, estupro não é sexo. Sexo é algo que pessoas adultas fazem, querendo, consentindo.
O cara ainda está destruindo a carreira da própria esposa, que tem ume grife de vestidos e agora descobriu que ele obrigava as atrizes a usarem a marca nos tapetes vermelhos. Destruiu a vida das assediadas e da azarada que decidiu dividir o teto com ele.
No Brasil não é diferente. TODOS OS DIAS alguma conhecida me relata um caso onde as instâncias de poder que deveriam proteger as mulheres simplesmente lavam suas mãos: chefes, Rhs, delegacias da mulher.
Homens: simplesmente mantenham os seus paus dentros das calças. Não é difícil. Para vocês combaterem o assédio basta não assediar. Parem de hipocrisia e babaquice. Ninguém é obrigada a lidar com macho babando igual cachorro velho se esfregando na gente. É simplesmente nojento.
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Ah, mas me perguntam alguns amigos homens bem intencionados:
“O feminismo vai acabar com o romance. Tudo agora é assédio!”
ou
“Ah, mas acontece né? Supera... pô não é possível que isso vá acabar com a vida de alguém”
Eu pedi autorização para duas amigas próximas, para contar as histórias de assédio delas.
Uma delas tinha 17 anos e estava no terceiro ano do ensino médio. Tinha acabado de ser transferida para uma escola particular, ela estudava numa pública antes. Os pais decidiram transferir para ela se preparar melhor pro vestibular. Ela não tava conseguindo fazer muitos amigos, mas o professor de química era muito maneiro, vizinho dela, dava uma super força, corrigia as provas com ela junto. Um dia ele ofereceu uma carona, ela aceitou. Pq não aceitaria? Ele estava há um semestre se mostrando uma pessoa confiável com a qual ela convivia todo dia. Pois bem, chegando na rua da casa dela ele passou a mão na perna dela e começou a dizer o quanto ela era bonita, especial, madura. Ela ficou paralisada, sem reação num primeiro momento. Mas logo soltou o cinto, deu dois beijinhos no cara fingindo que nada tinha acontecido e saiu correndo. Ela tropeçou no meio fio bateu a boca e perdeu um dente. Ele arrancou com o carro. Ela não voltou para escola e perdeu aquele ano, atrasando sua formação. Anos depois no mestrado, um professor ofereceu carona para ela e outros alunos para ir pro metrô e ela teve uma crise de pânico.
O outro caso uma amiga estava fazendo um tratamento ginecologico complicado. Ela era super nova mas queria ter filhos, e sabia que o problema que ela tinha poderia afetar esse desejo no futuro. Depois de uma consulta de rotina ela desceu da maca e o médico dela (que eu conheço e o dedo tá coçando pra dar o nome) ofereceu uma pomada. Ela estranhou, perguntou para que, e ele simplesmente passou a pomada na mão e meteu na buceta dela “massageando” pra ensinar ela a passar a medicação adequadamente. Ela começou a chorar ele desconversou, perguntou pq ela estava tão abalada. Ela demorou TRÊS ANOS para voltar em outro profissional, que, pasmem!, disse para ela que não havia problema nenhum, que o tratamento longo e complicado que ela tinha se submetido três anos atrás era uma mentira. Mentira usada para facilitar o assédio e a submeter.
Quando caras como esses assediam eles estão dizendo que o pau deles é mais importante que a nossa carreira, nossa educação e nossa saúde. Foda-se se minha amiga atrasou o sonho de ser médica ou a outra acreditou por meses que era estéril se submetendo a um tratamento que, com sorte, foi ineficaz e não perigoso. Foda-se. É mais importante mostrar para as mulheres que não existe lugar no mundo para elas e que homens podem fazer o que quiserem, mesmo que isso afete nosso futuro, nossa integridade física e emocional.
Se o preço de isso parar é “acabar com o romance” como conhecemos hoje eu troco DE BOA. Sem problema nenhum. Prefiro ficar sem romance do que me submeter."
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