segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Melindre de roteirista

me.lin.dre
sm (cast melindre) 1 Facilidade em amuar. 2 Delicadeza afetada ou natural no trato. 3 Cuidado extremo em não magoar ou ofender por palavras ou obras. 4 Recato, mimo, pudor. 5 Escrúpulo.

Interessantes definições da palavra no dicionário...

O maior exercício diário que um produtor criativo deve fazer é o de encontrar maneiras construtivas de fazer críticas.

Roteiristas não são muito amigos de críticas. Dos iniciantes aos veteranos, a crítica é o grande fantasma que assombra as reuniões criativas.

1 O roteirista que acha que seu suor não foi reconhecido e pensa: “Senta aqui pra escrever pra ver o que é bom, não têm o menor respeito pelo meu trabalho, não sabe o quanto eu suei pra escrever esse texto que está detonando sem dó nem piedade”.
2 O consultor, que também é roteirista, e se compadece do sofrimento alheio.
3 O diretor que precisa do roteirista, mas quer garantir que ele faça exatamente o que ele quer, muitas vezes sem que ele se dê conta disso.
4 O estagiário que está no fogo cruzado anotando tudo, tentando ser legal com todo mundo e concordando com tudo.
5 O produtor, criatura muitas vezes demonizada por ter a ingrata missão de estabelecer limites ao criador. O excesso ou a falta de zelo pode colocar tudo a perder. E é preciso garantir que todos os outros trabalhem felizes.

Como produtora criativa e roteirista em formação, minha tarefa é ajudar o roteirista a encontrar seu caminho. Às vezes, cabe a mim também aconselhar sobre esses caminhos. Mas nem sempre o caminho escolhido pelo roteirista será o melhor para o diretor ou o produtor ou, ainda, o projeto.

A crítica é também um exercício árduo, suado, porque não pode estar pautado em gosto pessoal, intuição, limitação de repertório ou desconhecimento de assunto/causa.
Você precisa conhecer bem o roteirista, suas intenções, anseios, desejos e limitações. E muitas vezes, por mais cuidado que se tenha, alguém ainda vai acabar magoado com sua crítica. Haja frustração...

Não sei se existe remédio pra tanto “melindre”. Mas quando existe uma relação mútua de confiança e respeito, críticas devem ser recebidas e interpretadas de maneira positiva. Afinal, não estamos todos trabalhando pelo mesmo objetivo?

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A TÉCNICA LIBERTA

Bomba!
Sim, meus caros, foi isso mesmo que vocês leram: A técnica liberta!
E se alguém tem preconceito, pare de ler agora! Ou melhor, leia sim, pois estou aqui pra provar que é verdade.

Mais de um ano analisando todo tipo de projetos de ficção, aprendendo muito e trocando figurinhas valiosas com produtores, diretores, roteiristas e montadores renomados do nosso Audiovisual já me credenciam, pelo menos um pouco, pra falar da arte de contar histórias. Além disso, digo com orgulho que um dos motivos pelo qual abandono esse blog de tempos em tempos, é porque estou estudando muito, lendo muito, aprendendo muito e pensando muito em um post que valha a publicação.

Desde julho, participo de um curso intensivo de roteiro que mudou a minha vida e minha percepção sobre a importância de se conhecer a técnica e as bases do storytelling. Foi amor à primeira aula: A partir dos estudos dos 3 campos narrativos, criados pelo teórico americano David Bordwell, estou descobrindo como a técnica é uma ferramenta essencial para a escrita de roteiros. E também para sua melhor análise e compreensão. E por que não, para criticar meus projetos pessoais.

A grande virtude de uma boa análise está em entender o quê (e como) um projeto está querendo lhe dizer alguma coisa. E fazer as perguntas certas. Sem isso, em primeiro lugar, não há análise competente. Uma boa análise JAMAIS se apoia no gosto pessoal. Ela se vale de objetivos e interesses dos envolvidos, oportunidade, momento e entendimento.

Mas voltemos à técnica...
Para quem acha que isso é um bicho feio que lança raios congelantes e engessadores, meus pêsames. E não reclame se o feedback do seu projeto for mais negativo do que positivo!
O conhecimento - e o domínio - da técnica te levam a fazer os questionamentos corretos pra entender os eventuais problemas. Veja que não estou aqui falando de manuais com regras e fórmulas. Tampouco estou criticando ou abominando sua existência - todos eles beberam em fontes mais sólidas, estabelecidas há mais de dois mil anos. A técnica dialoga diretamente com a arte e com o contexto sociocultural na qual está inserida.

Fato é que a técnica tem me ajudado a olhar com mais atenção e cuidado para os projetos que analiso. E a, realmente, dar sugestões construtivas, que levem a soluções satisfatórias. A expressão "conheça o seu público" agora é empregada da forma correta - e sim, tem a ver com cultura e com História!

Caros amigos, só posso dizer mesmo que a técnica liberta. Da dúvida. Da ignorância. Da limitação. Porque quando você a tem internalizada, sobra mais tempo para criar e inovar.

E se vale a analogia barata: Só se pode transgredir o processo de preparo de um bolo de chocolate se realmente souber como se faz um. Não preciso dizer mais nada, né?

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Amigos roteiristas, uni-vos!

Olha eu aqui tirando a poeira do blog!

O motivo: um apelo.

Amigos roteiristas, uni-vos!

Por que raios essa é uma classe tão desunida e desinformada?

Ponto um: Tenho conversado bastante com roteiristas de diferentes panelas (novatos, experientes, dedicados, convencidos, consagrados) e cada vez mais percebo que a questão da autoria é um calo incômodo...
Lembremos que a obra audiovisual é uma obra coletiva.
E que receber um crédito de "um filme de" ou "criado por" requer trabalho coletivo bem liderado e muita ralação.
E tem gente por aí que quer ser autor e não sabe o básico, como registrar os direitos autorais de sua obra. #vergonhaalheia

Ponto dois: Por que roteiristas não podem ser roteiristas?
Por que trabalhar sozinho e se privar das trocas incríveis com outras pessoas?
Felizmente, tive também a sorte de conhecer alguns talentos generosos e preocupados com a qualidade do que está sendo produzido, prontos pra dividir todo e qualquer conhecimento em prol de uma dramaturgia mais sólida. Isso não é ótimo?
Precisamos de mais iniciativas assim!

Vamos parar de almejar o topo da montanha sem saber como se faz para escalá-la!
A analogia é brega, mas o conceito é esse.

domingo, 17 de maio de 2015

Sobre ser roteirista

Toda vez que eu preciso preencher um cadastro e perguntam a minha profissão, é uma crise...
São cinco segundos que duram anos de uma viagem mental interna sobre "por que eu não sou capaz de simplesmente responder que sou roteirista". Sempre respondo outra coisa.
Nunca sei se faço isso pra não levantar questionamentos alheios ou se é porque eu mesma não acredito nisso. Bem, se eu pensar racionalmente, é porque não me considero uma ainda. Que o diga este blog com o qual eu tenho o suposto compromisso de escrever semanalmente...
Roteiristas são pessoas criativas, pessoas que não cabem no "nine to five", pessoas que tem sobre o que escrever. São escritores que sabem escrever dentro de uma forma, que é o roteiro. Escrever um roteiro é transpor formas literárias e gêneros narrativos em algo que possa ser VISTO e OUVIDO. Sim, porque o roteiro é, puramente, sobre IMAGEM e SOM.
Mais do que isso, roteiristas são aqueles que passam seus dias criando mundos, pessoas, diálogos, ações e reações, para compor uma história (ou um recorte dela). É sobre “o quê?”, “quem?”, “como”, “quando” e “por quê?”.
Roteiristas são deuses de mundos ainda inexistentes ou inexplorados.
Roteiristas escrevem sobre coisas que amam ou coisas com as quais se identificam, mesmo que minimamente, porque é um ofício que requer envolvimento de corpo e alma, requer crença.
Roteiristas estão sempre à busca de maneiras melhores de dizer isso ou aquilo, de mostrar isso ou aquilo. E essas coisas todas precisam fazer um sentido, não só para a história, mas para o mundo, porque roteiristas precisam entender o porquê de estarem contando essa ou aquela história, qual a sua contribuição para a humanidade.
Ser roteirista é muito mais do que sobre escrever um roteiro. É sobre paixão. É sobre saber o que se quer dizer. É sobre expressar-se.
Mais que um ofício, escrever roteiro é uma forma de Arte.
Ser roteirista talvez seja, muito mais do que a prática de um ofício, um estado de consciência. Eu me sinto roteirista? Sou capaz de responder a essas perguntas? Eu realmente tenho algo a dizer?
E assim, talvez, quando eu achar que tenho essas respostas, talvez aí eu possa responder sem pestanejar quando me perguntarem qual é a minha profissão.

domingo, 8 de março de 2015

Pelo direito de ser quem você quiser ser...

Desde que queimamos o primeiro sutiã, muita coisa mudou... E mesmo que ainda haja um longo caminho a ser percorrido, vivemos em uma época de liberdade.
Assim, neste breve post, expresso meus sinceros sentimentos sobre o Dia Internacional da Mulher:
Pelo direito de decidir sobre seu próprio corpo em todos os aspectos. Seja o de andar de roupa curta, transparente, justa (ou qualquer outra) sem ser julgada, condenada ou estuprada; Seja o de prevenir ou interromper uma gravidez indesejada (sem ser discriminada ou criminalizada); Seja o de explorar livremente sua sexualidade com quem e como se quiser e – sempre – de forma consensual.
Pelo direito de ter o mesmo salário e as mesmas oportunidades profissionais que o colega do sexo oposto.
Pelo direito de dividir igualmente as tarefas domésticas - e porque não - as da maternidade.
Pelo direito de gostar de histórias românticas (ou não), de se sentir sexy mesmo sem ter o corpo e o rosto das capas de revista, de aceitar uma gentileza do sexo oposto, de ser cortejada ou cortejar, de tomar a iniciativa, de desejar o príncipe encantado ou o casamento perfeito ou qualquer outra relação afetiva que te faça feliz.
Pelo direito de ser sensível ou dura como uma rocha, de ser frágil ou uma leoa.
De amar, de ser feliz e de ser a mulher que se deseja ser, em toda a sua plenitude - seja lá o que isso signifique pra cada uma de nós.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

E AGORA?!

Passado o rolo compressor que foi o fim semana e enquanto todos se perguntam o porquê, eu te pergunto: E agora?
Você foi inteligente o bastante para expor seu ponto de vista e idiota o bastante pra não estar aqui para ver o resultado.
Sim, digo idiota porque você nos deixa numa hora injusta e sem direito a réplica.

O primeiro sentimento que você me despertou com sua partida foi a raiva, uma vontade de te dar umas palmadas bem dadas pra ver se você acordava.

Mas depois, vendo todos se culpando injustamente, percebi que a raiva era apenas isso, uma culpa de não ter visto o que estava acontecendo, porque sempre achei que aquele seu jeito resmungão, de alguém que argumentava tudo, era sua fortaleza. E eu o admirava muito por essa força com que se impunha para todos e tudo.

Mas aí, enquanto chegavam aquelas mil coroas de flores, e amigos e mais amigos querendo se despedir, eu pude entender toda a angústia de uma pessoa solitária em seus pensamentos, que se via presa no labirinto de si mesma, vendo apenas as paredes, mas nunca as saídas. E que todo o amor e carinho pelo qual você estava cercado a todo momento (e em todos os lugares) não foram suficientes para te abrir os olhos.

E então, você quis nos dar seu argumento final.

Engano seu! Não pára por aqui! Seu argumento vai sim ser retrucado! E agora, daqui por diante, quando eu me sentir incapaz de realizar algo, quando alguém me subjugar, me menosprezar ou me desencorajar, quando eu tiver medo de ir em frente, quando eu me sentir sozinha em meus pensamentos, quando eu pensar em desistir ou achar que as dificuldades são maiores que os meus sonhos, eu vou lembrar de você e de todo aquele amor que eu vi ao seu redor. E então, cheia de coragem, vou levantar a cabeça, encher o peito de ar e seguir em frente porque essa será minha forma de te homenagear.
Um beijo, querido.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

A virtude da genialidade

Se Alejandro Iñárritu não ganhar, no mínimo, o prêmio de melhor diretor, eu páro com o Oscar! Mesmo!
Como um colega de profissão acabou de descrever, "ainda não me recuperei, não sei se vou".
E nem comecei a falar do roteiro, dos atores e da trilha, toda feita com solos de bateria.
Simplesmente sensacional! Metalinguagem pura!
Um tapa na cara da cultura de culto às celebridades, uma reflexão sobre os caminhos da arte X entretenimento.
Com certeza, um filme que será analisado e dissecado em muitos cursos, por muitos anos.
Eu mesma vou ter que ver de novo (e de novo) pra conseguir fazer um texto que faça jus a genialidade desse filme.
Falamos em breve. Agora, vou ali procurar meu queixo..

Foi dada a largada!

A maratona começou há algumas semanas, mas a correria da vida real não me deixava escrever...
O JUIZ foi o primeiro, mas não achei nada excepcional, embora eu continue amando o RDJr.
Depois vi O GRANDE HOTEL BUDAPESTE, super bem produzido e tem o Ralph Fiennes em uma atuação graciosa. Uma comédia romântica com toque de Agatha Christie e gosto de cupcake. Delícia.
Aí veio o esperado BOYHOOD que já merece ser visto e aplaudido só pela ambição do projeto e comprometimento dos envolvidos.
GAROTA EXEMPLAR tem seus problemas, mas a atuação de Rosamund Pike me deixou sem fôlego. E fiquei com vontade de ler o livro, que me pareceu ter uma construção de trama bem engenhosa.
MESMO SE NADA DER CERTO tem músicas lindas e o filme está lá a serviço delas. E já valeu por isso. <3
LIVRE tem umas paisagens lindas e foi divertido ver a Reese Whiterspoon fazendo uma coisa diferente.
WHIPLASH suscitou discussões horrendas sobre a ode ao sadismo, mas eu discordo. Existe uma cumplicidade psicótica entre professor e aluno e aquela cena do final é de tirar o fôlego. Prefiro acreditar que o filme faz uma crítica à cultura americana e sua obsessão pela competitividade e perfeccionismo.
BIG EYES não é um filme de Tim Burton e muito menos parece ter grandes pretensões. Uma homenagem à artista Margaret D. H. Keane.
INTO THE WOODS é o pior filme que a Disney já fez, em todos os sentidos. Ainda estou tentando entender o que faz uma atriz como Meryl Streep se meter numa coisa dessas...

Bom, por enquanto é isso... Logo mais eu volto! E façam suas apostas!

A TEORIA DA VIDA

Se você quer ir ao cinema ver A TEORIA DE TUDO pra ver como Stephen Hawking ficou daquele jeito, não vá. Se você já viu e achou o filme superficial, eu sinto muito.
Primeiro, o filme é baseado no livro de memórias da Jane, a esposa e mãe dos três filhos deles.
Segundo, o filme não é uma biografia, mas uma linda história de amor, com enfoque na cumplicidade de um casal que se amou muito, apesar das adversidades e da forma nobre e brilhante como Stephen lidou e lida com sua doença. Uma lição de amor e determinação de um casal que não fazia daquela condição um melodrama.
Chorei horrores e super recomendo!
A trilha também é incrível e os atores... Como diz meu marido, uma atuação ao estilo "Ray" para Eddie Redmayne e muitas palmas para Felicity Jones.

O filme concorre ao Oscar 2015 nas categorias:
MELHOR FILME
MELHOR ATOR
MELHOR ATRIZ
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
MELHOR TRILHA SONORA