domingo, 17 de maio de 2015

Sobre ser roteirista

Toda vez que eu preciso preencher um cadastro e perguntam a minha profissão, é uma crise...
São cinco segundos que duram anos de uma viagem mental interna sobre "por que eu não sou capaz de simplesmente responder que sou roteirista". Sempre respondo outra coisa.
Nunca sei se faço isso pra não levantar questionamentos alheios ou se é porque eu mesma não acredito nisso. Bem, se eu pensar racionalmente, é porque não me considero uma ainda. Que o diga este blog com o qual eu tenho o suposto compromisso de escrever semanalmente...
Roteiristas são pessoas criativas, pessoas que não cabem no "nine to five", pessoas que tem sobre o que escrever. São escritores que sabem escrever dentro de uma forma, que é o roteiro. Escrever um roteiro é transpor formas literárias e gêneros narrativos em algo que possa ser VISTO e OUVIDO. Sim, porque o roteiro é, puramente, sobre IMAGEM e SOM.
Mais do que isso, roteiristas são aqueles que passam seus dias criando mundos, pessoas, diálogos, ações e reações, para compor uma história (ou um recorte dela). É sobre “o quê?”, “quem?”, “como”, “quando” e “por quê?”.
Roteiristas são deuses de mundos ainda inexistentes ou inexplorados.
Roteiristas escrevem sobre coisas que amam ou coisas com as quais se identificam, mesmo que minimamente, porque é um ofício que requer envolvimento de corpo e alma, requer crença.
Roteiristas estão sempre à busca de maneiras melhores de dizer isso ou aquilo, de mostrar isso ou aquilo. E essas coisas todas precisam fazer um sentido, não só para a história, mas para o mundo, porque roteiristas precisam entender o porquê de estarem contando essa ou aquela história, qual a sua contribuição para a humanidade.
Ser roteirista é muito mais do que sobre escrever um roteiro. É sobre paixão. É sobre saber o que se quer dizer. É sobre expressar-se.
Mais que um ofício, escrever roteiro é uma forma de Arte.
Ser roteirista talvez seja, muito mais do que a prática de um ofício, um estado de consciência. Eu me sinto roteirista? Sou capaz de responder a essas perguntas? Eu realmente tenho algo a dizer?
E assim, talvez, quando eu achar que tenho essas respostas, talvez aí eu possa responder sem pestanejar quando me perguntarem qual é a minha profissão.

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