Escrever, para mim, sempre foi uma forma de expressão, uma válvula de escape. E essa vontade (ou vocação) começou cedo, ainda criança, época em que eu gostava de fazer minhas próprias versões de músicas conhecidas, cartas de amor e poemas. Um poema em especial marcou minha vida e foi a primeira vez em que eu percebi de verdade que havia sentido e emoção no que eu escrevia...
O ano é 1993. Comovida com uma matéria que havia visto na TV sobre a chacina da Candelária, fui deitar pensando nas crianças em situação de vulnerabilidade. O resultado desse momento acabou em um poema que tocaria profundamente minha professora de História e acabaria virando matéria do Fantástico com a atriz Paloma Duarte a declamando. Recebi cartas de escritores comovidos com meu poema, um deles em particular chorou em frente a uma sala cheia de alunos da quinta série enquanto eu lia pra ele. Aquele momento eu jamais esqueci. E entendi, que quando eu escrevia com a alma, eu realmente poderia tocar as pessoas. E não parei mais. As versões de músicas, os poemas, cheguei até a escrever uma peça infantil. Tive sorte de ter professores que acreditaram no meu talento e sensibilidade e me encorajaram a seguir em frente. Quisera hoje poder agradecê-los por contribuírem com o caminho que trilho. Porque quando a gente faz algo que ama profundamente, isso só pode dar certo. Eis então o dito poema, escrito em 1993, por uma garota apaixonada pela escrita, de apenas 12 anos:
Candelária
Hoje, olhando lá embaixo, vejo casas, o mundo
Crianças entrando em seus quartos - as ruas
Cobrindo-se com seus cobertores - o sereno
Ligando seus abajoures - as estrelas
E não se esquecendo de rezar:
Senhor, proteja-nos das armas de fogo
Dái a nós o pão nosso de cada dia
E ajudái-nos, senhor, a pagar as nossas dívidas
Amém.
Anjos da escuridão, asas não tem
Apenas medo, pedindo perdão,
Misericórdia para sobreviver
E acordar no outro dia vendo os pássaros cantarem.
Quem foi, lá ficará.
Quem ficou, também irá.
Mas os covardes que os levaram irão pagar.
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